A proximidade da Copa do Mundo levou o governo do Distrito Federal a colocar em prática a maior intervenção já realizada na Esplanada dos Ministérios desde a fundação de Brasília, há 53 anos.
Trata-se da construção de uma ciclovia no gramado central da Esplanada, com o plantio de 359 árvores ao longo dos 3,2 km de pista.
A obra gerou críticas de especialistas, que entendem que haverá descaracterização de cartão-postal da capital e parte fundamental do Plano Piloto idealizado pelo urbanista Lucio Costa (1902-1998). Alegando a necessidade da intervenção antes da Copa, quando Brasília será uma das sedes, o governo pediu e obteve autorização em caráter de urgência do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). O projeto foi tocado por técnicos do próprio governo.

20 metros de altura

As árvores, dentro de três anos, poderão ultrapassar os 20 metros de altura, o que poderá comprometer o visual da Esplanada.

Assim, seria afetada a concepção do Plano Piloto, tombado como patrimônio histórico federal e reconhecido pela Unesco como patrimônio cultural da humanidade.

A ciclovia é apenas uma das obras que o governo decidiu implantar no Eixo Monumental. O governo diz que não haverá impacto no projeto original. Ressalta que a ciclovia e as árvores ficarão nas laterais do local.

Obra criará corredores

Ao longo dos anos, foram plantadas 160 árvores no canteiro, mas quase sempre nos cantos. A nova obra criará dois corredores de árvores.
A arquiteta Maria Elisa Costa, filha de Lucio Costa, soube pela reportagem da obra e a condenou, após verificar os croquis feitos pelo governo. “O gramado contínuo, livre e desimpedido é uma pausa, um silêncio verde na partitura musical que é o Plano Piloto. Ainda mais que o bem tomado é, exatamente, a “partitura”, ou seja, a relação entre as escalas urbanas. Imagine se numa sinfonia alguém resolvesse de repente introduzir saxofone no lugar de piano”, afirmou.

Prejuízo

Para o professor da Universidade de Brasília Cláudio José Pinheiro Villar de Queiroz, que trabalhou com o arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) por dez anos, os ipês poderão causar prejuízo à visualização de prédios importantes. Paulo Henrique Paranhos, presidente da seção regional do IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil), disse que a ciclovia no gramado “é lamentável” e que o IAB não foi chamado para discutir a obra.

Pronto de vista

A arquiteta Emilia Stenzel,   do comitê brasileiro do Conselho Internacional de Monumentos e Sítios (Icomos), disse que a obra “fere princípios norteadores da concepção da Esplanada”. Para o professor da UnB Cláudio José Pinheiro Villar, que trabalhou com o arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) por dez anos, os ipês poderão causar prejuízo à visualização de prédios importantes.

A ciclovia é apenas uma das obras. Haverá reformulação de  pontos de ônibus, que ganharão recuos e ipês-amarelos. O motivo pelo qual a ideia nunca saiu do papel, disse o paisagista Haruyoshi Ono, que trabalhou com Burle Marx, é que Lúcio Costa não queria árvores ali.